O projeto “Cruzamento em bovinos de corte envolvendo as raças Charolês e Nelore” é coordenado pelo zootecnista do Departamento de Zootecnia do CCR, professor Dr. Ivan Luiz Brondani. Segundo o pesquisador o projeto tem o objetivo geral de incrementar a produção de bovinos, para a produção de carne, através do cruzamento alternado e sistemático de uma raça bovina de corte européia, com uma zebuína. Conforme explica o coordenador e professor Brondani, são também objetivos específicos deste projeto:
- avaliar por sete gerações sucessivas, o desempenho das cruzas Charolês x Nelore, comparando com os animais Charolês e Nelore puros (definidos);
- comparar com as gerações atuais da cruza entre as raças Charolês e Nelore;
- comparar essa cruza Charolês x Nelore com uma terceira raça (Aberdeen Angus);
- medir e comparar a produção das raças Charolês e Nelore puras;
- obter informações sobre a adaptação da raça Nelore às condições climáticas no extremo sul do país;
- acompanhar o desenvolvimento ponderal dos animais cruzados e puros, tanto machos quanto fêmeas;
- avaliar quantitativa e qualitativamente, a carcaça e a carne dos novilhos e das fêmeas de descarte dos grupos envolvidos;
- medir o grau de heterose mantido nas gerações sucessivas;
- preparar recursos humanos para esse tipo de conhecimento, dada a dificuldade de se obter bons técnicos, capazes de entender e desenvolver sistemas de cruzamento complexos de alta resposta em termos de produção de carne e economicidade.
O professor Brondani ressalta que a justificativa do projeto se aplica devido o desafio lançado aos governantes, sobre a melhora na produção de alimentos no mundo, principalmente, nos países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos, quando ocorre o maior crescimento populacional. O Brasil é um dos poucos países do mundo, com alta disponibilidade de áreas para a produção de alimentos, ressaltando que aumentar a produção de carne é uma necessidade não apenas para atender a demanda interna, mas para que o país possa fortalecer a sua posição de exportador. O Brasil, sem dúvida, é um dos maiores produtores de carne bovina do mundo e apesar disso, vem aumentando constantemente a produtividade desse alimento nobre. No entanto, quando medimos os índices de produtividade do rebanho brasileiro, observamos que ainda estão muito aquém de seu potencial, sendo que um dos fatores responsáveis por isso é o baixo nível genético do rebanho nacional.
A genética, quando bem direcionada, é uma ferramenta muito importante nas mãos do criador para melhorar a produtividade. O método normalmente praticado para melhorar o nível genético é a seleção dentro da mesma raça. No entanto, utilizando este método somente, o progresso conseguido é lento. Uma técnica auxiliar que pode ser utilizada para acelerar o melhoramento genético é o cruzamento inter-racial. O aumento no desempenho normalmente conseguido através do cruzamento são os resultados da combinação e complementação de características desejáveis e que são expressas com diferentes intensidades entre as raças, bem como a heterozigose e sua resultante, a heterose. Então, de uma maneira geral, os cruzamentos realizados pela maioria dos nossos criadores não são planejados e são mais uma “mistura” de raças e que nem sempre tem dado os resultados esperados.
O professor Brondani comenta ainda sobre a falta de um melhor conhecimento das aptidões genéticas das raças envolvidas, e principalmente, da falta de um esquema planejado e sistemático de cruzamento capaz de manter a heterose a um nível satisfatório. A maioria dos trabalhos de pesquisa realizados na área tem demonstrado que o cruzamento aumenta o desempenho em bovinos de corte. Entretanto, estes trabalhos têm avaliado somente uma ou duas gerações de cruzamentos, sendo necessário gerar informações sobre o desempenho dos animais cruzados nas gerações subseqüentes, havendo, portanto, a necessidade de estudar e avaliar os resultados dos cruzamentos a médio e longo prazo, bem como medir o grau de heterose retida. O máximo de heterose em bovinos tem sido obtido através do cruzamento de bovinos europeus (bos taurus taurus) com zebuínos (bos taurus indicus).
O professor Brondani ressalta ainda que para evitar a queda da heterose nas gerações sucessivas é necessário manter a percentagem de heterozigose em um nível alto, o que se consegue através do cruzamento sistemático alternado de duas ou mais raças. O sistema de cruzamento que está sendo utilizado nesta pesquisa é o cruzamento sistemático alternado de duas raças (Charolês x Nelore). A raça Charolês tem destaque como grande produtora de carne, ao passo que a raça Nelore tem grande capacidade de adaptação nos trópicos, e é entre as zebuínas criadas no Brasil, a que atualmente apresenta maior expansão e reúne a preferência dos criadores de zebu visando à produção de carne. Esta pesquisa teve início em 1984 e tem a conclusão prevista para o ano de 2026, quando estiver concluída e avaliada a sétima geração de cruzamento.
O coordenador comenta que: “a FATEC tem facilitado e muito a condução da pesquisa, administrando de forma correta e rápida. Por ser pesquisa, é considerado normal ocorrer demandas não previstas inicialmente no projeto, porém a FATEC, por meios adequados e legais, tem nos guiado com segurança nas soluções de todas eventualidades”, enfatiza o pesquisador Ivan Luiz Brondani.
(Matéria produzida pela Jornalista Kelly Martini – MTb 137.25 )